Estamos a celebrar mais um Natal. Em momentos como esse, impende indagar: existe relação entre uma coluna inclinada para as coisas externas da política e a uma data voltada para o farol íntimo da fé? Existe alguma ligação entre o fio mundano da representação popular e a raiz profunda que nos liga ao transcendente? Penso que sim. Porém, nosso olhar precisa ser desembaçado.
NOSSO OLHAR
Segundo Gibran, “a humanidade olha para Jesus Nazareno como para um miserável que sofreu pobreza e humilhação como todos os fracos. E ela tem pena d’Ele, pois acredita que Jesus foi crucificado na dor... E tudo o que lhe oferece é choro, gemidos e lamentação. Por séculos a humanidade tem adorado a fraqueza na pessoa do Salvador. O Nazareno não era fraco! Ele era forte e é forte! Mas as pessoas se recusam a ouvir o verdadeiro significado da força. Jesus nunca viveu uma vida de medo, nem morreu sofrendo ou queixando-se... Viveu como um líder, foi crucificado como um cruzado, morreu com um heroísmo que assustou seus assassinos e torturadores”.
JESUS, O MODELO
“Jesus não foi um pássaro de asas quebradas. Foi uma tempestade furiosa que quebrou todas as asas deformadas. Não temeu seus perseguidores nem seus inimigos. Não sofreu diante de seus assassinos. Foi livre, bravo e ousado. Desafiou todos os déspotas e opressores. Viu as pústulas contagiosas e amputou-as... Fez calar o mal, esmagou a falsidade, despedaçou a perfídia. Jesus não veio do centro do círculo de luz para destruir os lares e construir sobre suas ruínas os conventos e mosteiros. Não persuadiu o homem forte a se tornar monge ou padre, mas veio difundir sobre esta Terra um espírito novo, com poder para demolir as fundações de qualquer monarquia erguida sobre ossos e crânios humanos... Veio demolir os palácios majestosos, construídos sobre os túmulos dos fracos, e esmagar os ídolos, erigidos sobre os corpos dos pobres. Jesus não foi enviado aqui para ensinar as pessoas a construir igreja e templos magníficos no meio dos frios barracos miseráveis e das choupanas melancólicas... Ele veio para transformar o coração humano num templo, a alma no altar e a mente num sacerdote”.
A REFLEXÃO
Certamente, é pela ausência da compreensão do verdadeiro Jesus, exemplo maior de coerência e justiça, que os homens entregues à magnânima tarefa de dirigir os demais através da representação popular deslizam tanto sobre a calçada molhada dos escândalos. Enquanto assistimos, atônitos e indignados, a cenas deprimentes de corrupção protagonizadas por governantes, deveríamos antes nos perguntar: - Se eu lá estivesse, agiria diferente? Seria capaz de resistir ao toque sedutor do vil metal? Será que, nas pequenas ações que preenchem o meu cotidiano, dou exemplo de honestidade e decência?
A ALTERAÇÃO
Cada dia que passa sedimento em meu coração a clara certeza de que, além de mudar o nosso sistema representativo (alterando a legislação, implantando o voto distrital misto, financiamento público de campanha etc) temos que mudar o ser humano, ou melhor, cada um de nós. Como lembrou Gandhi, “Nós devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo”. Esta, imagino, há de ser a principal reflexão que devemos fazer neste Natal de 2009.
A VOLTA DOS SOMBRAS
Outra iniciativa com som de saudade veio do empresário Vanderlei que, juntamente com alguns amigos, pretende promover a volta do “Os Sombras”, famoso conjunto musical que atingiu o auge nas décadas de 70 e 80. Na festa, agendada para o próximo dia 09 de janeiro de 2010 na Cabana Mendes, serão homenageadas personalidades que salpicaram de estrelas a vida noturna de Crateús. Sucesso aos organizadores do evento!
ANO NOVO
Estamos a fechar a cortina de mais um ano. É hora de colocar o olho no retrovisor, abrir o peito para o balanço, fazer a assepsia da alma e deixar desabrochar a flor do novo ano. É imperioso que eliminemos as pendências, através da faxina nos nossos arquivos mentais. Abra um espaço para doar com gratidão o que pode ser benéfico ao próximo e acione a sintonia vibrante da aurora do ano que nasce. Um Natal de Luz e um Ano Novo de Paz!
PARA REFLETIR
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo... e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares... É o tempo da travessia... e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos". (Guimarães Rosa)
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