Igreja Católica imprime milhões de panfletos contra Dilma

Acompanhados de oficiais da Polícia Civil de São Paulo, militantes do PT encontraram neste sábado (16) em uma gráfica do bairro do Cambuci, zona sul da capital paulista, um milhão de panfletos assinados por três bispos ligados a um braço da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) com uma mensagem contrária ao PT e à candidata do partido à Presidência da República, Dilma Rousseff.

No local, o pai do dono do estabelecimento, Paulo Ogawa, apresentou um documento para mostrar que a encomenda havia partido da Diocese de Guarulhos. O bispo da cidade, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, já apareceu em um vídeo pedindo aos fiéis que não votassem em candidatos e partidos que “apoiam abertamente a liberação do aborto”.

Os petistas decidiram ir até a gráfica depois que um militante levou um dos panfletos até o escritório do partido no bairro da Vila Mariana.

Segundo Ogawa, originalmente, a Diocese de Guarulhos pediu a impressão de 18 milhões de panfletos. A gráfica, porém, recusou o pedido argumentando que não teria capacidade para dar conta da encomenda. 

A primeira entrega do material ocorreu no dia 15 de setembro, ainda antes do primeiro turno da eleição, ocorrido no dia 3 de outubro. Naquela leva, 1,1 milhão de folhetos deixou a gráfica. No dia 13 deste mês, outro pedido foi feito: de mais 1 milhão de exemplares. Foram estes os panfletos encontrados hoje na gráfica.

Panfleto contra Dilma
Trecho do panfleto com as recomendações aos eleitores (Foto: R7)
A defesa do PT foi à 1ª Delegacia Seccional da Polícia Civil, que fica no bairro da Aclimação, e apresentou um pedido chamado preservação de direitos. O objetivo é tentar impedir que os panfletos deixem a gráfica até que se investigue de onde partiu a encomenda. A sigla quer saber também se o material é falso ou não.

A advogada do partido, Ana Fernanda Ayres Dellosso, afirmou que há a possibilidade de crime eleitoral.

- O conteúdo pode ser crime eleitoral, mas isso deve ser julgado. O procedimento foi feito para proteger o eleitor de jogadas políticas e propaganda irregular.

O PT ainda vai entrar com uma representação na Justiça Eleitoral para barrar a distribuição dos panfletos. A legenda entende que o conteúdo do manifesto tem dizeres ofensivos e caluniosos.

De acordo com Ana Fernanda, o material seria irregular porque não leva o CNPJ da entidade que solicitou sua produção.

Assinam o manifesto anti-Dilma d. Nelson Westrupp, d. Benedito Beni dos Santos e d. Airton José dos Santos - os três são bispos da Regional Sul 1 da CNBB, que reúne as 41 dioceses do Estado de São Paulo.

Westrupp é bispo de Santo André e presidente da Regional Sul 1. Beni dos Santos e José dos Santos são, respectivamente, vice-presidente e secretário-geral do órgão.

Os papéis levam a mesma mensagem já distribuída nas cidades de Aparecida (SP) e Contagem (MG) no feriado do dia 12, quando foi celebrado o Dia de Nossa Senhora Aparecida. O texto faz críticas ao terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, proposto pelo governo no fim do ano passado, e orienta os católicos para que, “nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à criminalização do aborto”.

Outro lado

A CNBB já se manifestou em ocasiões anteriores e ressaltou que somente a Assembleia Geral, que não vetou qualquer candidato ou partido, pode falar em nome da entidade.

O responsável pela comunicação da Regional Sul 1 da CNBB, d. Vilson Dias de Oliveira, lamentou o episódio e disse que a entidade desconhece a origem da encomenda e dos recursos que teriam sido usados para pagar por ela. Os bispos católicos querem aguardar as investigações policiais.

Oliveira disse inclusive estranhar o fato de uma solicitação desse tipo ter partido de uma diocese, que segundo ele não costuma ter recursos suficientes para bancar uma compra de material desse volume. A Regional Sul 1 está reunida desde ontem no interior de São Paulo e deve emitir uma posição oficial neste domingo (17).

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