JAPAO: Quando o caos significa sossego


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Chegamos ao centro de Tóquio quando a cidade estava sob a ameaça do maior de todos os blecautes.
Quinta-feira, meia noite.
No cruzamento de Shibuya, onde podem atravessar até mil pedestres por vez, havia poucas pessoas. Você certamente já viu Shibuya em algum filme. É um dos lugares mais famosos da capital japonesa.
Achei vazio. Pois bem, era meia noite, pensei. Mas a tradutora Sarah – uma brasileira que vive no Japão há 11 anos e nos auxilia nas reportagens – logo nos disse que deveria estar muito mais movimentado. Paramos pra conversar com uma pedestre. ”O movimento que você está vendo é de apenas um décimo do normal”, afirmou.
Amanheceu sexta-feira. E, mais uma vez, encontrei uma Tóquio bem diferente daquela que já vi nos filmes e reportagens. Ruas sem trânsito. Não estou exagerando, era sem trânsito mesmo. Poucos pedestres, cafés vazios, o metrô estava vazio! Sabe aqueles seguranças de luvas branquinhas, pra empurrar os passageiros pra dentro dos vagões, feito sardinha em lata? Estavam todos lá, tranquilos, com as luvas intactas.
Como é minha primeira viagem ao Japão, a todo instante recorria à tradutora. É assim mesmo? Não é feriado hoje?
Não era. Feriado será na segunda-feira próxima. Mas espichar a folga não é um hábito japonês.
A falta de gasolina tirou os carros da rua.
O medo da contaminação radioativa  mudou a rotina das 13 milhões de pessoas que vivem em Tóquio.
Durante o dia eu pude visitar um dos pontos onde a radiação é medida na capital. Uma máquina estranha de quase 2 metros, capta partículas do ar. Os computadores analisam e, de hora em hora, revelam o índice radioativo daquele momento.
Ao meio-dia desta sexta-feira (18), a radiação estava acima do normal mas segundo o departamento de pesquisa radioativa, insuficiente para causar qualquer dando à saúde. O técnico que nos acompanhava explicou que com aquela radiação ele saía de casa sem qualquer preocupação.
Mas os moradores têm dúvidas. O mundo desconfia que o governo japonês possa ter ocultado informações.
E o próprio governo já admitiu erros. Demorou a reagir após o terremto, seguido pelo tsunami da última sexta-feira (11).
Não conseguiu compreender rapidamente que os abalos à usina de Fukushima eram bem mais sérios. Não conseguiu prever a crise nuclear que se instalaria  no país dias depois.
A Agência Internacional de Energia Atômica cobra informações mais precisas e claras. Disse que alguns dados repassados pelo Japão estavam errados. E vai começar a calcular a radiação sobre Tóquio pra ter certeza de que não há risco à saúde das pessoas.
A população torce pra que dê certo. Quer o sossego de volta.
E, curiosamente, na capital das multidões, sossego quer dizer grandes congestionamentos, superlotação nos metrôs, nas ruas.
Que volte, então, o caos de Tóquio. Os japoneses estão com saudade.
Adriana Araujo – Blog R7

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