Habituada a brigar pelo primeiro lugar em audiência copiando descaradamente os programas da Globo, a Record conseguiu recentemente atrair a atenção com algo que é, sem dúvida, a cara da emissora do bispo Edir Macedo: a minissérie bíblica Rei Davi. A estratégia de investir em um texto sagrado deu tão certo que o canal vem impondo empates e derrotas na audiência a seu maior rival e já decidiu produzir novas séries tiradas da Bíblia. O toque divertido dessa história toda é que Rei Davi, uma minissérie de homens barbudos, vestidos com saiotes e de armas em punho, que remetem o telespectador a quase um século antes de Cristo, vem fazendo beldades da Globo como Fernanda Lima e suas dicas eróticas em Amor & Sexo, ou Patricia Pillar e seus amassos em As Brasileiras, comer poeira.
Talvez tenha sido a ressaca do Carnaval – Rei Davi bateu a Globo pela primeira vez na quinta-feira após a folia – ou até o microssaiote usado por Leonardo Brício na pele do personagem-título, mas, segundo especialistas em teledramaturgia, os motivos para as vitórias da minissérie da Record no Ibope vão além da velha luta do sagrado contra o profano.
O sucesso de Rei Davi se faz de uma história universal e atemporal, em que se misturam um dramalhão rasgado e a eterna luta do bem contra o mal. “A questão religiosa é o que menos importa. Rei Davi se baseia em elementos clássicos do melodrama – como a disputa pelo poder, o sacrifício da mãe pelo filho e a busca pelo amor verdadeiro – que representam padrões dramáticos aos quais o público está habituado a assistir”, diz Claudino Mayer, pesquisador do Núcleo de Estudos de Telenovela da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Quem Matou... O Romance Policial na Telenovela.
Na última quinta-feira de fevereiro, quando Rei Davi marcou 16,8 pontos contra 14,9 de As Brasileiras, no Ibope da Grande São Paulo, foi exibida a cena em que Selima (Bianca Castanho) morre no parto ao dar à luz o filho de Jonatas (Cláudio Fontana), herdeiro do rei Saul (Gracindo Jr.), líder de Israel. A autora Vivian Oliveira tratou a situação com alta dose dramática: fez o pai renegar o bebê recém-nascido e entregá-lo aos cuidados de uma criada para depois se isolar nas montanhas e, enfim, chorar copiosamente a morte de seu grande amor.
Na última quinta, em que o exército de Davi foi atacado pelos filisteus, a minissérie empatou com As Brasileiras, que teve a participação de Ivete Sangalo no episódio A Desastrada de Salvador. Globo e Record tiveram 12 pontos de média.
Valores e valores – Em Rei Davi, o melodrama clássico ganha reforços que contribuem para o êxito da série: a produção de 25 milhões de reais inclui efeitos especiais e as tramas paralelas se desenvolvem em meio a núcleos familiares, que sublinham o valor da união entre parentes, tema caro ao espectador.
A concorrência também tem dado uma forcinha para o bom desempenho de Rei Davi no Ibope. Composta de histórias irregulares, com textos fracos e personagens caricatos, a série As Brasileiras até agora não mostrou a que veio. E, como seus episódios são independentes, da mesma forma que os de Amor & Sexo, não fideliza o público como faz a minissérie da Record. Isso torna mais eficiente a troca de bastão entre Vidas em Jogo e Rei Davi, que vai ao ar após a novela com audiência média de 12 pontos.
O sucesso de Rei Davi é uma prova de que a originalidade ainda é a principal matéria-prima para gerar audiência na televisão. A aposta em séries bíblicas é um dos raros investimentos da Record que se descola estratégia da emissora de reproduzir formatos de programas consolidados pela Globo.
Créditos: ADTV
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