A perspectiva de leilão das fazendas e da unidade industrial da Companhia Açucareira do Ceará Mirim podem significar o sepultamento definitivo da empresa agonizante, pelo menos, nos últimos cinco anos. É preciso lembrar que, na atual configuração, a empresa nascida numa grave crise que determinou a fusão das duas maiores usinas da região, fato que criou novas perspectivas para aquela área, era totalmente dependente da monocultura da cana de açúcar, que concentrou, durante muitos anos, algumas das maiores expressões econômicas do nosso Rio Grande do Norte.
Com a unificação das usinas, uma dezena de engenhos – alguns deles seculares – foram perdendo condições de competitividade, restando aos seus proprietários se transformarem em fornecedores de cana para a usina. As periódicas crises enfrentadas pela usina terminaram retirando a maioria dos antigos senhores de engenho do mercado, uma vez que não bastava produzir e entregar a matéria prima à usina. Era preciso receber o pagamento devido, o que terminou acontecendo com grande irregularidade.
Nesses 40 anos, juntamente com o enfraquecimento da usina, o próprio setor sucro-alcooleiro do Ceará Mirim foi perdendo sua expressão, e o próprio município, que durante muito anos anos se colocava entre os cinco de maior renda em todo o Estado, foi perdendo posições. Agora, a notícia do leilão, pela Receita Federal, pode determinar o sepultamento definitivo da empresa ou poderia até oferecer uma possibilidade de renascimento do setor. A suspensão do Leilão por medida liminar não é bastante para superar um problema quase intransponível. No padrão atual, uma usina com capacidade para moer 450 mil toneladas, como aquela, a torna antieconômica. As usinas de hoje devem ter, pelo menos, um milhão e meio de toneladas.
Do ponto de vista numérico, o leilão quando (e se for) efetuado servirá para cobrir dívidas da ordem de R$ 146 milhões com a Fazenda Nacional. E – ao que se sabe – o controle da companhia havia sido transferido em 2009, por R$ 220 milhões. Chegou a hora de fazer contas. Será que o espólio a ser leiloado ainda tem o valor apurado há quatro anos? Se tiver, é possível que a solução para a crise do Ceará Mirim venha pela vertente capitalista. Ao contrário dos outros arranjos realizados quando aparecia qualquer crise, quando se recorria ao velho IAA (Instituto do Açúcar e Álcool), Banco do Brasil, Governo do Estado e outros órgãos públicos, o leilão pode interessar a algum grupo empresarial disposto a inventar um negócio. É verdade que não existem ainda indicativos de alguém com recursos suficientes para tocar um empreendimento desta dimensão, quando o setor do açúcar se tornou bastante atrativo em termos mundais. Fato que pode trazer investidores de fora, caso não se forme um grupo local disposto a aproveitar a oportunidade.
Mas, nessa mesma linha de raciocínio, surge um perigo rondando o Ceará Mirim. Pelo que foi dito aos repórteres desse NOVO JORNAL, algumas pessoas ligadas à usina apontaram como grande alternativa econômica o caminho imobiliário, representado por 23 fazendas (algumas na área urbana) a serem retalhadas, fato que mataria a alternativa produtiva e condenaria definitivamente a região a se transformar num reles dependente da capital, cabendo a Ceará Mirim aceitar o papel de cidade-dormitório. É exatamente em função desta situação que esperamos que alguma coisa ainda possa ser feita. Afinal, além dos legítimos interesses empresariais, existem muitos outros aspectos sociais e econômicos de interesse de todo o Rio Grande do Norte que estão em jogo.
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