SBT pode perder verba publicitária do governo por causa de Rachel Sheherazade


Por essa Silvio Santos não esperava. O governo federal planeja suspender a verba publicitária que repassa à emissora que é a terceira colocada no país, o SBT. A equipe do ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, está examinando o caso, a pedido da líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ).

A deputada acusa a emissora de ter praticado apologia e incitação ao crime, à tortura e ao linchamento ao exibir comentários de Rachel Sheherazade, âncora do principal telejornal da emissora. Segundo a parlamentar, suas opiniões exaltavam a ação de “justiceiros” no Rio de Janeiro contra um jovem de 16 anos, acusado de furto.

“A Secom me deu um primeiro retorno dizendo que concorda com o conteúdo do nosso pedido e que estuda quais providências tomar”, disse Jandira Feghali ao Congresso em Foco. A assessoria da Secretaria confirmou que estuda o assunto, mas só o ministro Thomas Traumann poderia confirmar se concorda ou não com a suspensão da verba.

Em 2012, o SBT recebeu R$ 153,5 milhões em publicidade do governo federal, 13,64% do bolo publicitário das emissoras. A Globo recebeu R$ 495 milhões e a Record, R$ 174 milhões. “Como o governo pode subsidiar um canal que tem uma editorialista que incita à violência e à justiça com as próprias mãos?”, questiona Jandira Feghali.

Comentário de Rachel

Na edição do telejornal SBT Brasil, do último dia 4 de fevereiro, Rachel disse que era “compreensível” a ação de um grupo de pessoas que acorrentou a um poste um adolescente acusado de furto no bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio. O jovem foi acorrentado, nu, pelo pescoço com uma trava de bicicleta.

Para Rachel, a ação dos “justiceiros” se justifica por causa do clima de insegurança nas ruas e da ausência de Estado. Ela também criticou a atuação de militantes dos direitos humanos. “Faça um favor ao Brasil. Leve um bandido para casa”, declarou.

Perda da concessão

A líder do PCdoB na Câmara trabalha em duas frentes contra o SBT. Além desse ofício, ela também pediu a abertura de inquérito contra a TV e Rachel Sheherazade e o corte da verba enquanto durarem as investigações. Em caso de condenação, Jandira solicita que o SBT perca até o direito à concessão pública.

Segundo a deputada, uma coisa é externar uma opinião, outra é defender um crime como “fazer justiça com as próprias”. “Não podemos ser coniventes com nenhum crime. O único poder capaz de julgar a proporcionalidade da punição é a Justiça, que dá direito de defesa. Temos de defender o estado democrático de direito.”

Em entrevista à Folha de S. Paulo, a apresentadora diz que apenas expressou sua opinião e que não defendeu os chamados “justiceiros”. “Em meu espaço de opinião no jornal SBT Brasil, afirmei compreender (e não aceitar, que fique bem claro!) a atitude desesperada dos justiceiros do Rio”, escreveu Rachel.

Em nota divulgada à Época, o SBT alegou que a opinião da apresentadora era de responsabilidade dela, e não da emissora. Mas Jandira não concorda. Para ela, como concessão pública, a TV tem total responsabilidade em relação ao que leva ao ar.

“A emissora vai ter de assumir. Não estamos provocando a Rachel Sheherazade, é o SBT que está em questão. Não é uma questão dela especificamente, mas dela vinculada ao canal. A gente espera que isso sirva de parâmetro para outras TVs”, disse a deputada.

Em 2000, o SBT ficava com 20% do “bolo” publicitário do governo entre as emissoras de TV. Naquele ano, a emissora recebeu R$ 135 milhões para divulgar ações do governo federal. Na época, era vice-líder de audiência, posto que perdeu, de lá para cá, para a Record, de Edir Macedo.

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