Mulheres que consomem maconha durante a gravidez podem ter filhos com cérebros mal desenvolvidos, alerta um estudo feito na Suécia e divulgado nesta semana. O trabalho mostra que a droga atrapalha as conexões entre os neurônios em uma fase crítica da formação cerebral.
“Se há uma mensagem a ser passada por este trabalho é que as mulheres grávidas não devem nunca, jamais, consumir maconha, ou qualquer composto que contenha maconha, em qualquer momento da gravidez”, afirmou ao G1 Tibor Harkany, do Instituto Karolinska, em Estocolmo -- líder do estudo publicado na revista “Science”.
O objetivo do grupo de Harkany era descobrir se o cérebro em desenvolvimento, ainda no útero da mãe, já possuía um sistema de compostos chamados “endocanabinóides”, batizados a partir do nome científico da maconha, Cannabis sativa. Como o próprio nome diz, esses compostos funcionam como uma “maconha natural” do cérebro. Em adultos, esses sistema regula coisas como o sono e a alimentação. Mas ninguém sabia se ele existia, e o que fazia, no cérebro de crianças ainda no ventre da mãe.
O estudo feito em culturas de células e em camundongos mostra que o sistema está sim presente e tem uma função para lá de importante: é ele que “ensina” os neurônios em formação como fazerem as conexões entre si -– algo essencial para que a criança consiga realizar coisas básicas como pensar, falar, formar memórias, se movimentar e se emocionar. Todo esse processo ocorre em relativamente pouco tempo e, portanto, é bastante sensível.
Quando a futura mãe consome qualquer derivado de Cannabis sativa ela desregula esse delicado sistema e altera o seu funcionamento correto.
“Nossos resultados são compatíveis com outros estudos feitos com filhos de mulheres que consumiram maconha durante a gravidez. Crianças acompanhadas até os 16 anos apresentaram diversos problemas, como déficit de atenção, de aprendizado e dificuldade para se relacionar socialmente”, afirma Harkany.
Segundo o cientista, que contou com o apoio de outros pesquisadores europeus e norte-americanos, o trabalho traz dois resultados importantes. O primeiro é o entendimento mais completo das ações da maconha no cérebro. “Por enquanto temos uma compreensão limitada das conseqüências da Cannabis e entender como ela afeta um cérebro em desenvolvimento pode ajudar bastante a compreender como ela age em um cérebro adulto”, diz ele. O segundo é a demonstração de um mecanismo fundamental da formação do cérebro ainda no útero da mãe.
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