Salário mínimo deveria ser de R$ 3.079,31 hoje para suprir despesas básicas


O Plano Real, programa brasileiro que estabilizou a economia do País, já tem 20 anos. Nesse período (julho de 1994 a junho de 2014), a inflação nacional atingiu 362%, segundo cálculos do economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) Marcel Solimeo.   

Um exemplo desse aumento de preço é um dos itens mais presentes na mesa do brasileiro, o frango. Em 1994, 1 kg de frango custava R$ 1. Atualmente, 1 kg de frango é vendido em média por R$ 4,76 em São Paulo, segundo a última pesquisa da cesta básica da Fundação Procon-SP, referente a maio.  

Para se ter uma ideia do aumento de custo para o consumidor no período. Em julho de 1994, o salário mínimo era de R$ 64,79, mas o necessário para suprir as despesas básicas do trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência era de R$ 590,33.

Hoje, apesar de a renda ter subido e o salário mínimo ter chegado a R$ 724, as pessoas precisariam ganhar em maio (mais recente dado) deste ano R$ 3.079,31 para suprir essas despesas, ou seja, cinco vezes mais do que em 1994.

Os dados acima são da pesquisa da cesta básica de alimentos realizada mensalmente pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) com base no custo apurado para a cidade de São Paulo.
Além disso, alguns serviços subiram mais do que a inflação nesses 20 anos.

O coordenador do curso de administração do Ibmec/MG e doutor em administração, Eduardo Coutinho, dá o exemplo da energia elétrica residencial, que sofreu um aumento de 397%. Outros casos são a moradia e a comunicação (telefonia e internet) que subiram 836% cada um.

— Acontece que, nesses 20 anos do Plano Real, houve crescimento acelerado da renda, proliferação de crédito e aumento do nível de ocupação da mão de obra. Isso pressionou os preços para cima.  

Pontos positivos e negativos do Plano Real 

A nova moeda brasileira foi instituída no início dos anos 90 com o principal objetivo de controlar o aumento geral de preços no País. Antes do plano, a variação anual média no período de 1980 a 1994, segundo dados do Banco Central, foi de 451,57%. Após ela entrar em circulação, o percentual caiu. Por exemplo, de 1995 a 2003, o índice foi de 9,12%. 

O economista da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Carlos Alberto Cinquenti explica que “uma diferença do Plano Real em relação aos anteriores é que você tinha um mercado para disciplinar a alta de preços”.
Apesar de atualmente o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial da inflação, estar longe dos patamares gigantes da década de 80, a situação preocupa, pois já se soma 6,37% no acumulado entre junho de 2013 e maio deste ano. O índice tem ficado ao redor do teto da meta do governo que é de 6,5%. Com os preços lá em cima, o poder de compra da população diminui. 

Carlos Alberto ainda afirma que a responsabilidade fiscal (controle dos gastos) é um outro pilar do Plano Real que está sendo desrespeitado.

— A gente está vendo o crédito sendo liberado de forma lasciva e o governo federal tem tido pouca disciplina fiscal.

Em maio, o esforço fiscal do governo federal, estaduais e municipais para pagar os juros da dívida pública registrou o pior resultado para o mês desde o início da série histórica em dezembro de 2001. No mês, o setor público deixou de poupar R$ 11,046 bilhões. Já o endividamento do País chegou a R$ 1,725 trilhão.  

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