MPEduc realiza primeira audiência pública no Rio Grande do Norte


Evento ocorreu em Cerro Corá e discutiu problemas como falta de transporte para os 
alunos, insuficiência da merenda, além de escolas repletas de problemas estruturais

O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado (MP/RN) promoveram no município de Cerro Corá a primeira audiência pública do projeto Ministério Público pela Educação (MPEduc) em território potiguar. O evento, realizado quinta-feira (19), superlotou o auditório da Câmara Municipal e marcou o início de uma nova etapa do MPEduc no Rio Grande do Norte.

Durante a audiência, começaram a ser discutidas as possíveis soluções para os problemas registrados em visitas realizadas pelos representantes do MPF e MP/RN a 17 escolas municipais e estaduais localizadas em Cerro Corá, nos dois dias anteriores à reunião, além de questionários já aplicados aos profissionais envolvidos com a educação na cidade.

Coordenada pelo procurador da República Bruno Lamenha e pelas promotoras de Justiça Mariana Barbalho e Iveluska Lemos, a audiência contou com a presença do prefeito de Cerro Corá, Raimundo “Novinho” Borges; do secretário municipal de Educação, Adevaldo Oliveira; e de uma representante da Secretaria Estadual de Educação, Maria do Carmo Freire; além de aproximadamente 70 professores, diretores, conselheiros escolares, vereadores e estudantes.

Problemas – O procurador Bruno Lamenha apresentou um breve relatório com informações sobre as verbas repassadas pela União para a educação em Cerro Corá e confrontou os dados com os problemas encontrados nas escolas, durante as inspeções. Os integrantes do Ministério Público detectaram diversos problemas: “Um deles é a merenda, as crianças estão recebendo leite com biscoito, sem direito sequer a uma carne ou uma verdura”, lamentou.

Ele criticou a situação desoladora que as escolas rurais vivem e apontou problemas como a existência de um banheiro ao lado de uma despensa, com uma janela entre ambos; água de beber acondicionada em baldes, alguns com tampas improvisadas; alimentos vencidos ainda armazenados; computadores parados, sem uso; escolas que não receberam livros por falta de um veículo que os transportasse; e diversas unidades com mobiliário velho, bastante gasto, enquanto algumas contam com móveis novos guardados. “Muito disso é problema de gestão”, indicou.

Há escola com banheiro sem água encanada, onde alunos lavam as mãos em um tanque. Sala de aula sem iluminação e funcionando como depósito de material de obra. Vaso sanitário solto, caixa de gordura aberta, caixa d'água com risco de desabar, além de micro-ônibus escolares transitando superlotados. “Encontramos até escola sem banheiro, sem cozinha e funcionando.”

A promotora Iveluska Lemos ressaltou a importância das visitas e da audiência para que sejam traçadas as estratégias de atuação do MP: “A gente sabe que a realidade é dura, mas esse é um trabalho de articulação e conjunção de esforços”. Já Mariana Barbalho destacou a preocupação com os dois maiores problemas verificados, o transporte escolar e a alimentação dos alunos. “Não podemos admitir que nas escolas falte algo básico como a merenda”, afirmou.

O prefeito e o secretário de Educação reconheceram os problemas e elogiaram o trabalho realizado pelo Ministério Público, mas alegaram que há diversas dificuldades - orçamentárias, burocráticas e estruturais - para se conseguir a melhoria da qualidade no ensino. Eles garantiram, porém, que irão promover todos os esforços necessários na busca de uma estrutura mais adequada para as escolas.

Compromissos – Em reunião realizada após a audiência, o prefeito Raimundo Borges se comprometeu a realizar uma nova licitação para o transporte escolar e ainda garantir a estrutura para as escolas rurais terem acesso ao serviço telefônico. O secretário Adevaldo Silva assegurou que os livros didáticos chegarão a todas as escolas e que o mobiliário novo que se encontra estocado será cedido às unidades que necessitam desses móveis. Confira a íntegra da ata da reunião.

Projeto – No Rio Grande do Norte já foram promovidas duas reuniões do MPEduc, a primeira em em dezembro, em Currais Novos, da qual participaram educadores da própria cidade, de Cerro Corá e de Lagoa Nova; e a segunda em Ipanguaçu, no mês de fevereiro, reunindo professores e gestores do município e de Itajá. No dia 30 de abril deverá ocorrer uma nova reunião de apresentação do projeto, com educadores de Santa Cruz (onde será realizada) e Coronel Ezequiel.

Nessas reuniões, os representantes do MPF e MP/RN mostram o funcionamento do MPEduc e iniciam o diagnóstico da situação das escolas. Os municípios participantes são escolhidos levando em conta os de mais baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em cada região. Após o diagnóstico, são promovidas visitas às escolas e marcada a audiência pública.

Após as audiências, como a de Cerro Corá, são analisadas as medidas a serem tomadas, principalmente através de recomendações a serem enviadas aos gestores, e posteriormente é marcada uma nova audiência para prestação de contas sobre o que foi feito pelo MPF e MP/RN e os resultados obtidos.

Nova audiência - Na próxima quinta-feira, dia 26, será realizada a primeira audiência pública no município de Lagoa Nova, às 9h no auditório da Câmara Municipal.

Comentários

Anônimo disse…
Por que os "governantes em geral", só tomam medidas quando são "pressionados"! Será que os professores, pais e alunos tem que conviver com a "prepotência" desses que se dizem "Políticos", pois na hora do voto prometem o céu e a terra e depois "vivem de conchavos"! Até quando o 'Ministério popular brasileiro" aguentará isso calado!