A agulha já não aponta para o norte

Por Amadeu Roberto Garrido de Paula

O fim último do homem é a felicidade, diz a Constituição norte-americana de  1789 e as últimas manifestações da ONU. Tales de Milleto, um dos mais antigos filósofos gregos, no século VI AC, preconizava que seus pressupostos são um corpo são, alma em sossego e boa sorte. Boa sorte é o aleatório. Não por má sorte, mas por equívocos, imundícies políticas, em que a corrupção é a mais mal cheirosa, o carnaval do Rio de Janeiro, seu símbolo, neste ano, foi um desastre, visto o objetivo feliz  do homem sob a ótica de sua totalidade.

Carros de escolas de samba se desmancharam, provocaram acidentes pessoais, lesões graves. Tudo é resultante do Brasil de hoje.  Coisa nunca vista antes na história do carnaval carioca. Ex-Governador preso, seus cúmplices idem, salários e obrigações trabalhistas vergonhosamente e impiedosamente atrasados, evidente falta de recursos para tudo, não seria o carnaval uma ilha tranquila nesse mar em ebulição trágica, que encantava a baía da Guanabara.

O Rio de Janeiro há muito não tem bons governantes, mas estes bateram o recorde.

Sempre houve corrupção e concertação com o tráfico, mas não na extensão de agora. As favelas em profusão nunca estiveram em estado de irrupção vulcânica tão intensa como agora.

Ao abordar os tristes episódios do Rio de Janeiro, que deixaram, segundo a grande mídia, a alegria para segundo lugar, são necessárias rápidas considerações filosóficas sobre aquela questão da felicidade. Ela não pode ser tópica, ocasional, efêmera, mas resultar tanto de um estado de coisas estrutural quanto de visão humana do todo e não de partes do processo civilizatório. Essa perspectiva do homem é, não raro, um paradoxo: basta ver detentores de grandes fortunas, obtidas dentro da legalidade, o que não é mais comum, em que seu beneficiário continua a iniciar o trabalho às sete e não descansa, não oferece oportunidades a outros, centraliza tudo: um medo terrível dos tempos atuais o infelicita e impede que, mesmo em idade provecta, possa usufruir de tudo que construiu cansativamente.

Mulheres abastadas continuam a consumir o "básico", quando vieram de estratos inferiores. Não percebem que, assim, deixarão monstruosos inventários que serão solucionados pela Justiça somente em décadas. Incapazes de encontrar a "boa sorte" de que fala nosso velho filósofo, recorrem-se as químicas que supostamente ajudem na erradicação da ansiedade, da depressão e do desequilíbrio de todos os dias. Religiões falsas se valem dessa circunstância para dizer que os homens se apartaram de Deus. Literatura e filosofia do mágico e do mundo humano invisível e fantástico, onde se localiza a complexidade das causas dos fatos, somente são vistas quando apoiadas em fortes esquemas cinematográficos e de marketing, tornando-se, assim, "best sellers" da moda. Bruxos passam a ter "status" mais elevado que os homens comuns, os "trouxas".

O amor parece se liquefazer aos poucos, visto o número de separações em condições de superar as uniões. Porque não é amor, é conveniência, interesses, sexo exclusivo, demonstração de grandes conquistas afetivas que logo se convertem em ciúmes. Até a cerimônia do Oscar não é mais aquela, o que dizer de nossa pobre Sapucaí...

Por outro lado, o mundo geopolítico em guerra ou, pelo menos, razoável relacionamento de respeito e de diplomacia,  falta de políticas minimamente racionais que  levaram a Síria a seu estado atual e o mundo à beira de um ataque de nervos, sob conflitos, atos terroristas, um falastrão do mal à testa da maior potência do mundo, a extrema direita próxima do poder na França e o Brexit, que infirmou reflexões internacionais sérias desenvolvidas a mais de meio século, nos primeiros passos do Mercado Comum Europeu. O Brasil aos pedaços.

Nada é novidade e incontornável pelo homem. Mas este tem de reciclar-se com urgência no plano internacional, construir nova Organização Mundial forte, porquanto esta já lembra a precária Liga das Nações. Os alugueres de seus prédios dependem do alucinado Trump e, do exército de Brancaleone de Bolívar, a Venezuela já não mais pode participar por falta de pagamento de aluguel.

As brincadeiras de Momo não solucionam problema existencial algum, somente dão vazão a instintos imediatos do materialismo cru e se forram de sangue como estas de 2017, em seu habitual centro multicolorido e lúdico. 

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