Os juros básicos da economia brasileira caminham para o nível mais baixo em 60 anos, se projeções feitas por economistas e investidores se confirmarem. O levantamento histórico é do Santander.
Embora nem sempre caminhem juntas, as previsões de economistas e investidores indicam que a Selic deve voltar a cair nesta quarta (24), passando de 8,25% para 7,5%.
Os dois grupos apostam em outro corte de 0,5 ponto em dezembro, levando os juros para 7% no fim do ano.
Além disso, parte dos especialistas diz que inflação sob controle e níveis ainda altos de ociosidade nas empresas respaldariam juros abaixo de 7% no começo de 2018.
“A última vez que tivemos juros nominais abaixo de 8% por período razoavelmente longo foi no início da década de 50, durante o segundo governo de Getúlio Vargas”, diz Mauricio Molan, economista-chefe do Santander.
O consenso entre economistas e investidores finda aí.
Em relatório, Molan diz que, com um cenário de inflação contida e baixa vulnerabilidade externa, o juro deve recuar para 6,75% em fevereiro de 2018 (menor patamar em 60 anos) e continuar nesse nível até meados de 2019.
Já investidores veem uma taxa Selic de 8,25% já no fim do ano que vem, o que corresponde a uma alta de de 1,5 ponto sobre o juro de 6,75%.
A divergência entre os que ganham para fazer projeções e aqueles que arriscam dinheiro com base nelas pode ser observada na curva futura de juros, que considera as taxas negociadas em títulos para um período mais longo.
Fernando Rocha, da gestora de recursos JGP, diz que quem se dispõe a investir dinheiro num futuro não tão próximo exige um prêmio se enxerga riscos. “E hoje esse risco parece ser alto”, diz.
Segundo ele, as incertezas embutem a possibilidade de um dólar mais caro, preços de alimentos mais altos e inflação maior em meio a uma economia mais fortalecida.
Parte dos economistas, diz, porém, que a curva de juros embute não uma reação econômica mais rápida e, em razão disso, maior inflação, mas temores em relação às reformas fiscais e à eleição de 2018.
Assim, ao mesmo tempo que mantém previsões de juros menores e estáveis em 2018, concorda que sinais emitidos por investidores não devem ser subestimados.
Para Helena Veronese, da gestora Azimut Brasil, não há o que justifique alta de juros em 2018, em meio à reação lenta do emprego e recuperação gradual do consumo. Mas riscos atrelados às eleições não devem ser desprezados.
Rodrigo Melo, da gestora Icatu Vanguarda, cita outra preocupação: de que a inflação no mundo desenvolvido se normalize mais rápido do que o esperado, com queda do real e pressão nos preços.
Marco Caruso, do Pine, vê um cenário benigno para preços, com inflação em 4% em 2018 e diz que o investidor respeita esse cenário-base. “A diferença é que ele cobra um prêmio por apostar num futuro não tão próximo.”
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